Crítica de governos ao Inpe é frequente em tempos de explosão do desmate

De tempos em tempos, sempre que os dados de desmatamento na Amazônia apurados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) causam incômodo, alguma voz se levanta para dizer que eles são “manipulados”. Isso é falso.

As taxas de desmatamento na Amazônia são produzidas desde 1988 pelo Inpe, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Criado em 1971, o Inpe é originário do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais, instituída em 1961.

Essas taxas são processadas anualmente pelo sistema Prodes, que monitora o desmatamento na Amazônia Legal por meio de imagens de diversos satélites, principalmente da série Landsat e Cbers.

O Prodes foi criado em 1988, após pressões internacionais sobre o governo Sarney por conta da grande extensão das queimadas na Amazônia, associadas ao desmatamento. Em reação, o governo iniciou o monitoramento da Amazônia no âmbito do Programa Nossa Natureza, lançado em 12 de outubro daquele ano.

O Inpe realiza há mais de três décadas de forma contínua a mensuração do desmatamento na Amazônia. Os dados são empregados como referência em diversas políticas públicas, principalmente voltadas ao combate ao desmatamento. Após processamento, são disponibilizados publicamente para que qualquer cidadão possa utilizá-los e verificá-los, com ampla transparência.

Além do Prodes, o Inpe desenvolveu outros sistemas de monitoramento da cobertura vegetal. Em 1986 foi criado o projeto de Detecção de Queimadas a partir de imagens de satélites. Em 2004, o instituto iniciou a operação do sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), criado no âmbito do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), que foi responsável pela redução de 83% do desmatamento na Amazônia de 2004 a 2012. O Deter tem como objetivo gerar alertas diários de desmatamento para orientar o trabalho de fiscalização dos órgãos ambientais, especialmente o Ibama.

A metodologia desenvolvida pelo Inpe foi disseminada em países como Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname, que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Os dados de desmatamento produzidos pelo Inpe se tornaram referência na comunidade científica internacional. Em 2007, a Science, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, publicou artigo em que afirma que o monitoramento realizado pelo instituto brasileiro é um modelo para os outros países.

Além dos sistemas operados pelo Inpe, que são utilizados pelo governo brasileiro como fonte oficial de dados, atualmente há diversos outros sistemas de monitoramento criados por organização não governamentais, empresas e universidades. Dentre eles o GLAD, do Global Forest Watch, que oferece alertas semanais de novas perdas da cobertura florestal no país; o SAD, do Imazon, que detecta alertas de desmatamento e degradação florestal; e o MapBiomas, criado por um conjunto de organizações não governamentais, universidades e empresas de tecnologia, que gera uma série histórica de mapas de cobertura e uso da terra no Brasil.

Todos esses sistemas possuem metodologias diversas e geram dados com características próprias, como abrangência territorial, periodicidade, detalhamento e precisão, entre outras, e dependendo do uso podem ser complementares, contando a mesma história.

A principal característica que viabilizou a criação desses e outros sistemas foi o uso gratuito das imagens dos satélites norte-americanos da família Landsat. Isso ocorreu após a pioneira iniciativa do Inpe de disponibilizar gratuitamente as imagens do satélite sino-brasileiro Cbers, o que acabou levando outros países, como os Estados Unidos, à mesma atitude em relação a dados orbitais de média resolução.

Em 2019 o desmatamento na Amazônia aumentou 34% em relação ao período anterior. Foi a pior taxa dos últimos onze anos: 10.129 km2 de floresta, área equivalente à do Líbano.

 

CHEQUE VOCÊ MESMO

BBC

Prodes

Programa Nossa Natureza

Projeto de Detecção de Queimadas

Metodologia Prodes e Deter

Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)

Science

Global Forest Watch

Imazon

MapBiomas

Cbers/Inpe

Inpe: Taxa consolidada de desmatamento na Amazônia em 2019 (Dados atualizados em 09/06/2020)